sexta-feira, 20 de março de 2009

"Não têm os teus olhos, mas têm o teu olhar"...

Olá a todos =)

Cá estou eu de volta para mais novidades! Já finalizámos mais um período e com ele novas novidades chegaram. Para além de continuarmos numa pesquisa intensiva para a realização do suporte escrito do projecto final, iniciámos a parte mais empolgante do projecto, o trabalho de campo. Estabelecemos contactos com diversas escolas e instituições com o propósito de contactarmos directamente com diferentes graus de autismo, podendo assim fazer uma comparação entre elas.
A primeira escola a ser visitada foi a Escola Básica Integrada de Vila Boim. Desde funcionárias a professoras, não podíamos ter sido melhor recebidas. Deram-nos toda a atenção que precisámos e até nos autorizaram a visitar a sala TECCH, que era um dos nossos principais objectivos, mas sabíamos que era aquele que mais complicado seria cumprir. A sala era constituída por diversos gabinetes individuais e ali tudo era programado, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo do tempo, tudo calculado até ao ínfimo pormenor. A nossa presença tornava-se incomodativa para aqueles meninos pois para eles éramos apenas umas “intrusas”, alguém estranho que eles não estavam habituados a ver e que alterava, de certa forma, a rotina habitual, cheia de regras que todos eles levavam. Assistimos a diversas actividades que nos fizeram perceber que os meninos ali presentes são muito especiais e que acima de tudo precisavam de carinho e muita atenção.
Além da visita a Vila Boim, deslocámo-nos ainda à Escola da Malagueira, onde contactámos com dois meninos com graus de autismo menos acentuados. Fomos igualmente bem recebidas por todos.
Ao início ficaram um pouco apreensivos, mas depois até conseguimos que falassem connosco. Era notório o diferente grau de autismo destes meninos comparados com os visitados em Vila Boim.
Visitámos ainda os meninos do jardim-de-infância mas não contactámos com eles pois os pais ainda não se conseguiram “libertar” dos preconceitos da sociedade e não os querem expor.
Estas duas escolas foram um marco no nosso trabalho, não só por serem as primeiras com as quais tivemos a oportunidade de contactar, mas também porque através delas pudemos perceber as diferenças existentes entre os diversos graus de autismo.
Penso que tenha sido importante para todas nós contactar com os meninos pois, ainda que tivesse sido pouco tempo, o bocadinho que estivemos com eles serviu para percebermos a verdadeira essência de muitas coisas. Não interessa se temos, ou não aquele casaco que está na moda, as botas de pele que tanto gostávamos ou aquelas calças de ganga que andamos a querer há tanto tempo. Interessa sim ter um amigo que nos oiça quando precisamos, aquela vizinha que nos dá sempre bons concelhos, ou a família que nos dá todo o carinho e amor que precisamos. Para eles, o principal objectivo é que as pessoas os aceitem tal como são, “deixando-os” integrar a sociedade, que é de todos, mas não é de ninguém.
Para além de tudo isto fizemos ainda uma entrevista à professora Isabel, a professora do Filipe, que é o menino autista da nossa escola, à Dona Maria do Rosário, a funcionária que o acompanha durante o intervalo e nas horas de almoço, e inclusive ao Filipe, que se mostrou bastante à vontade e muito interessado em explicar-nos como é a sua rotina diária, tanto na escola como em casa. Todos foram bastante simpáticos e prestáveis auxiliando-nos no desenvolvimento do nosso trabalho e tornando-o cada vez mais completo e autêntico.
Para complementar o nosso trabalho vamos também realizar duas conferências, uma para os adultos e outra para os mais novos. Sentimos a necessidade de fazer duas conferências para as diferentes faixas etárias pois os adultos, na generalidade, são quem mais dificulta o “trabalho dos meninos autistas” de inclusão na sociedade; e os mais novos pensámos que podia ser útil para eles uma vez que são colegas do Filipe, e por vezes não sabem como agir em algumas situações.
Mas nem tudo são rosas… Também já nos deparámos com algumas dificuldades, como em tudo na vida. Por exemplo, em visitar algumas escolas pois o transporte é sempre, ou quase sempre, um entrave e também é complicado ajustar o nosso horário com o dos meninos. Às vezes temos mesmo que faltar a algumas aulinhas para podermos ir.
Tirando estas pequenas complicações, tudo o resto tem sido fantástico. As professoras e encarregadas com quem temos tido o privilegio de contactar, os meninos… Têm sido sempre pessoas bastante simpáticas, o que nos facilita muito o nosso trabalho e nos dá muito gozo de fazer.
Temos ainda mais duas visitas agendadas, nomeadamente à Azaruja e ao CADIN. Vamos deslocar-nos ao CADIN amanhã para podermos esclarecer algumas das nossas duvidas, ver o espaço, e se possível, contactar com os meninos.
Temos também mantido contacto com uma família que tem um menino autista. Têm sido assim qualquer coisa de fantástico, são bastante prestáveis e deixaram-nos desde logo muito à vontade para pedirmos aquilo que fosse necessário para o nosso trabalho.
Aproveito para deixar aqui um enorme OBRIGADO a todos aqueles que têm feito com que o nosso trabalho seja possível; a todos os que se disponibilizam com toda a sabedoria que têm para nos contar; a todos os que nos mostram que a cada dia que passa é preciso ultrapassar pequenas barreiras e que são elas que nos fazem aquilo que somos; a todos aqueles que nos provam que “SER DIFERENTE É NORMAL”.
Foi um período muito trabalhoso, mas ao mesmo tempo muito gratificante pois todo o esforço valeu a pena. À medida que vamos desenvolvendo e conhecendo melhor este “Mundo” é complicado querer “deixá-lo”. É óptimo conhecer pessoas que tal como nós, só querem ser felizes… se as deixarem!
Acho que todos nós merecemos uma oportunidade, vamos dar-lhes a que eles, autistas merecem ;)


Milhares de crianças no Mundo precisam de ajuda, os autistas apenas precisam do teu respeito, carinho e compreensão! AJUDA-OS nesta luta contra a INDIFERENÇA E EXCLUSÃO!


*Beijinhos saudosos, e boas férias ;)
Marília =)